Congresso dos EUA debate CBDC em meio a pressão por proibição
À medida que os parlamentares americanos retornam do recesso de agosto, o tema das moedas digitais de banco central (CBDCs) volta a ser pauta nas discussões sobre políticas relacionadas a cripto. Recentemente, o Cointelegraph teve uma conversa com Sheila Warren, CEO do Project Liberty Institute. O foco foi entender se essa discussão em Washington reflete preocupações reais ou se é apenas uma manobra política e quais os impactos que isso pode ter para o futuro do dólar digital.
O debate sobre as CBDCs
Os defensores das CBDCs levantam questões importantes sobre a proteção das liberdades civis. Eles alertam que uma moeda digital controlada pelo governo poderia conceder acesso sem precedentes a dados financeiros dos cidadãos. O deputado Tom Emmer, que é um dos proponentes do Anti-CBDC Surveillance State Act, já expressou sua preocupação: “É dinheiro programável e controlado pelo governo. Se for implantado sem as devidas proteções de privacidade, pode dar ao governo a capacidade de monitorar e restringir as transações dos americanos, mexendo em todas as áreas de nossas vidas.”
Por outro lado, especialistas em políticas públicas acham que essa visão é um pouco simplista. O Federal Reserve já declarou que não irá lançar uma CBDC sem uma autorização clara do Congresso e que existem formas de projetar essa moeda de maneira a preservar a privacidade.
“Uma CBDC pode ser desenvolvida com grandes proteções para a privacidade ou, ao contrário, ser completamente transparente, sem resguardos”, explica Warren. Ela acredita que a ideia de que a CBDC representa uma ameaça imediata à privacidade não é bem assim. “Muita dessa retórica atual é mais política do que real”, acrescentou.
Enquanto isso, a posição dos Estados Unidos em relação às CBDCs é bem diferente da de outras grandes economias. A China, por exemplo, já lançou a sua versão, enquanto a União Europeia e Índia estão testando suas próprias soluções.
“Estamos vendo uma diferença significativa entre os EUA e outras economias. Atualmente, a administração e o Congresso americanos adotaram uma postura bastante negativa em relação às CBDCs,” afirma Warren. Ela também faz uma distinção entre as CBDCs de atacado, que são voltadas para transações interbancárias, e as de varejo, destinadas ao consumidor final. “Aqui nos EUA, nunca acreditei que uma CBDC de varejo fosse realmente viável. Já a de atacado faz sentido,” diz ela.
Stablecoins e temores sobre a IA
Enquanto isso, o crescimento das stablecoins pode tornar a discussão sobre CBDCs um pouco menos urgente. O Congresso decidiu aprovar o GENIUS Act, que oferece uma estrutura regulatória para essas moedas, o que pode facilitar sua adoção.
Warren levanta uma reflexão interessante: “Agora que temos stablecoins… elas podem se expandir e se tornar o que eu chamei de combustível da economia digital. Isso muda a necessidade de CBDCs.”
Com o foco da conversa em CBDCs, alguns especialistas alertam que há questões mais imediatas à nossa privacidade que estão sendo deixadas de lado. “As verdadeiras ameaças à minha privacidade vêm do que acontece com meus dados, do que eu forneço de forma voluntária, e do que a maioria de nós entrega à Inteligência Artificial,” destacou Warren. Ela cita o caso de uma fabricante de automóveis que estava vendendo dados de motoristas como um exemplo preocupante.
E assim, o debate continua, com questões relevantes sobre como o futuro financeiro vai se moldar e como a tecnologia vai influenciar nossas vidas diárias.